sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ensaio sobre a sexualidade

homossexual
No mês de Maio de 2007, no Jornal A Página da Educação, escrevi um texto sobre a temática. Uma temática que tem preocupado o mundo desde que eu me lembro das minhas leituras, aprendizagem, os meus debates, observação participante em terreno e defesa da livre opção.
Penso que muito que há que dizer sobre a livre opção, várias foram já mencionadas no texto referido. Lembro-me de ter citado uma frase da capa de um DVD, mas esqueci as imensas frases de publicidade, bem mais importantes que a da capa: “Era uma amizade que se tornou um segredo”, “Há lugares a que não devemos voltar”; ”Há verdades que devemos revelar”; “Há verdades que não podemos negar”.
Este diálogo, entre outros, acaba por ser mais importante e interessante do que o da capa do filme. É o debate entre dois homens que se amam, um deles todo decidido a levar uma vida aberta com o amor da sua vida, o outro todo temido por não estar a cumprir ou obedecer à denominada ética social. Os dois casam e têm filhos, mas casam com mulheres que são apenas uma paixão de dia, para se reproduzir e ter descendência, como a lei o diz e a sociedade o manda, bem como por existir uma certa paixão que dura esse curto tempo em que consiste a criação dos descendentes.
Os dois tinham temperamentos diferentes. Um deles era o mais decidido, que infelizmente acaba por falecer muito novo, em desespero da sua paixão frustrada. O outro, mais reticente, por causa do falecimento da sua paixão, passou a ser um morto em vida, sonhando durante muitos anos, imaginando ao longo de muitos anos que vivia com quem amava e que tinha falecido, e não com a mulher que o tinha feito pai.
 Os ciúmes das suas mulheres, não têm destino, não sabem como fazer para retirar dos afectos dos homens que elas amam, uma forma de amar para elas incompreensíveis, que não conseguem entender… Se for um engano denominado deslealdade, um amancebamento de poucas horas ou uma bigamia de curta ou longa duração, ele saberia o que fazer com a amante de meia hora. Mas, mulher a tentar lutar para reaver o homem que ama, que vive praticamente com outro homem, é uma verdade sem palavras.
Ando a pensar e escrever muito sobre este comportamento, desde que em 1896 Freud define a natureza humana como bissexual. Há um debate entre Sigmund Freud e Donald Woods Winnicott, sobre o amadurecimento do ser humano para criar, ideia da qual não se fala ao referir um romance dentro do mesmo género. Tenho observado, que instituições de seres humanos que reúnam para debater opções sexuais, falam mais do orgasmo, da paixão, do que diz a fé religiosa e da opinião social, ignorando absolutamente a ideia de paternidade – maternidade, de educação dos mais novos que parece ser impossível se o par que cria, são do mesmo género. Assunto que não se debate nem aparece na lei ou os Catecismos de Doutrinas Cristãs ou Muçulmanas.
O que interessa aos jornais é quem faz o papel de homem, quem o da mulher, quem lava a loiça, enfim, assimilar ao casal homossexual ao casal heterossexual e não a criação da prole, dever mais importante na nossa cultura. A paixão dura e acaba num pestanejar, excepto em casos de amor entre dois seres humanos que, por se respeitarem entre eles, precisam do prazer do carinho íntimo. Mas de criar seres humanos novos, apenas lembro um acórdão de um tribunal de Lisboa que entregara a criação dos seus descendentes ao pai e ao seu companheiro, por ser de valor moral e educativo mais alto do valor do acasalamento heterossexual que o pai tinha tido com a mãe dos seus filhos.
Fiquei surpreendido com a notícia. Diz que o País está a percorrer um caminho na direcção certa... Mas de maternidade e paternidade, nada diz. Talvez porque ainda a sociedade anda ocupada em entender como é a relação entre seres humanos do mesmo género e mais nada.
No meu ver, a sociedade e a cultura que nos orienta, essa lógica religiosa cristã ou maometana, deveriam pensar mais na reprodução e no amor aos mais novos e não apenas a bisbilhotar relações das que nada sabem. Não consigo esquecer esse filme Philadelphia de Tom Hanks, que debate uma doença, mas nada sobre a reprodução social e a educação de uma prole criada por pessoas do mesmo sexo. Na minha experiência de Etnopsicólogo, tenho sido capaz de apreciar que essa criação é tão normal entre homo e heterossexuais. Depende do feitio, da adrenalina gasta ou usada, do entendimento dentro do casal.
Se me disserem que Portugal está a percorrer um caminho certo por permitir o acasalamento heterogéneo, outro galo cantava. Não é o indigitar um bisbilhoteiro de como é que é entre casais do mesmo género, o que interessa, de facto, hoje em dia permitido por lei. O que interessa é a reprodução social que as diversas formas de se acasalar, posa produzir entre os mais novos e os seus amigos. Não falo de pedofilia, é outro assunto que está definido e provado em outros textos meus. Falo apenas da necessidade de reconhecer que há diversas formas de matrimónio, apesar de ter existido um ritual central elevado a categoria de Sacramento, entre cristão católicos, mas não entre cristãos luteranos, anglicanos, maronitas, arménios, ortodoxos russos e gregos. É esse, no meu ver, o caminho na direcção certa e sem preconceitos. Mais uma vez Winnicot vêm a nossa ajuda ao dizer que não é preciso uma mãe, especialmente ao se prender do descendente como única alternativa e actividade da vida. Por outras palavras, mãe ou pai que não se desmamam do filho ou da sua descendência, é o que faz mal aos mais novos, comportamento bem mais importante que despenalizar o de retirar das lista dos pecados, como fez Wojtila, no seu Catecismo de 1992 e, de certeza, em breve, o Código Penal, como crime, já expurgado desde 2010.
Apenas mais duas ideias: as formas do matrimónio são heterogéneas; a segunda, a reprodução social orientada por ascendentes que entendem do direito a optar das crianças e as ensinam nesse sentido. Não a homossexualidade: no meu ver é apenas um bisbilhotar em factos que nem se conhecem nem se entendem. Como o diálogo reproduzido ao começo do texto: há o que ama e é ousado, e diz que a realidade deve ser exposta. E o tímido, abrangido pela sociedade, que acaba por ficar só.
Falar de homossexualidade, é uma intriga feia. É como nos tempos de Martin Luther King, o matrimónio entre brancos – há brancos, ou apenas pálidos? – e pretos, era uma desgraça social. Quem vai governar esse país nestes dias, a partir de Janeiro de 2009? Falem-me de homossexualidade: é tão aborrecido, mentiroso, exclusivo e oculto, que cansa. A temática hoje é bem outra: a crise financeira e a separação das famílias que comemoram o seu Natal em sítios diferentes, fazem da sua vida um segredo que deixa aos mais velhos sós. É essa a temática. O resto, uma pura cobardia por ser diferente a media social. Porém, a homossexualidade é um assunto de estatística, nada a ver com a solidariedade entre seres humanos, especialmente da mesma família.

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