domingo, 7 de agosto de 2011

Ainda os primitos franceses – o raio que os parta!

Já se foram embora os miúdos, já vizinha. São diabólicos. E não nos deixaram saudades. O mais velho numa esplanada, depois de beber apenas parte de um sumo de laranja, recebeu na mão metade de um pastel de nata e, sem dizer nada a ninguém, atirou o pastel para os pombos. Veja lá, o cabrãozinho.
Depois deixaram um caderno de telefones todo giro, daqueles da EXPO 98, ou seja do Oceanário. Não sabemos quem foi mas foi um deles. A verdade é que o caderno apareceu no telhado do prédio vizinho. Alguém o atirou. Com muita paciência o meu marido tirou o caderno, pegou em duas vassouras e empurrou devagar até à última telha. Depois com jeito lá fez subir o caderno entre os dois paus. Percebeu-se que é deles pelo primeiro número da lista: MAMAN 003395011 – os últimos algarismos não se percebem nem isso é importante.
Uma coisa que fez saltar a tampa ao meu marido foi a cena da televisão. Ele quis ser simpático, procurou o canal MEZZO no Meo e disse para o mais velho: «Queres ver a TV em francês? É falado em francês!» Pois o miúdo virou-lhe as costas, o cabrãozinho.
Eles desprezam todos os outros europeus que não são franceses. A mãe da avó deles a primeira coisa que perguntou ao avô deles em 1979 foi isto: «Você quer o passaporte francês? Quer a nossa nacionalidade? Nós tratamos de tudo!»
Para aquela criatura o meu primo não era nada, era menos que marroquino, argelino ou tunisino. Eles nem sabem onde fica Portugal. Nem sabem nem querem saber. O nosso vizinho o senhor Dias costuma dizer «Quando chegar mande saudades que é coisa que cá não deixa!» É isso. Olhe vizinha, eles não deixaram saudades, o raio que os parta!

In: Aspirina B

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